getty images Demora no diagnóstico piora os sintomas do câncer, mas as chances de cura são altas
O tratamento de adolescentes com câncer é pouco estudado em comparação ao das crianças e adultos. A opinião é do oncologista pediatra Sidnei Epelman, 51 anos, presidente da Tucca (instituição sem fins lucrativos que oferece tratamento a crianças e adolescentes carentes com câncer). A Tucca trata adolescentes a partir dos 12 anos e adultos jovens, dos 21 aos 25 anos.
De acordo com o oncologista, há diferença na forma de se abordar um adolescente e como tratá-lo.
- Comparado ao tratamento do adulto, muda muito. O adolescente não quer fazer desenho. Por isso, temos uma lan house no ambulatório e um chef de cozinha, que dá aula de culinária.
A dona de casa Natália Rodrigues de Sousa, 21, é paciente da Tucca. Ela descobriu aos 19 anos, em dezembro de 2007, um neuroblastoma (câncer nas glândulas localizadas sobre os rins) depois de uma verdadeira saga por médicos de diferentes especialidades. Ela foi ao Hospital Geral de Guarulhos ao sentir fortes dores na barriga e nas pernas e depois de perder peso. Quatro meses depois, entre internações e diagnósticos diferentes, foi detectado o câncer.
- Falaram que eu tinha lúpus, reumatismo, fiquei quase dois meses indo e voltando do hospital. Foi com uma ressonância magnética que eu soube que era um tumor. Fiquei com raiva, porque depois da biópsia eu não sentia as pernas.
Desde então, Natália passou a se locomover com o auxílio de uma cadeira de rodas. Com o começo das sessões de quimioterapia na UTI, onde ficou por dois meses, perdeu totalmente o movimento das pernas. Casada, Natália se separou e não pode trabalhar por causa do tratamento e de suas reações. Ela passou a morar com a mãe, que cuida dela e de suas duas filhas com ajuda de uma tia, em Guarulhos (SP).
- Em julho [do ano passado] fiz a cirurgia que tirou o tumor e o rim direito. Fiz uma nova sessão de quimio e, em outubro, fiz o transplante de medula. Depois da cirurgia e do transplante, eu voltei a andar e não senti mais nada. Em novembro eu não estava mais internada.
Atualmente Natalia volta ao oncologista a cada dois meses e começa a fazer sessões de radioterapia a partir deste mês. Ela diz que mesmo quando não tem consultas, gosta de ir à Tucca para frequentar as aulas de culinária. "Adoro cozinhar", diz.
Outra paciente da Tucca, a estudante Carla Silva Feitosa, 15 anos, descobriu que tinha leucemia aos 13 e hoje está praticamente curada. Do tratamento, sobraram a quimioterapia por comprimidos, além do remédio para combater a trombose, fruto dos meses em que usou uma cadeira de rodas.
Assim como os demais casos, o diagnóstico do câncer de Carla demorou a aparecer. Primeiro, os médicos disseram que era tuberculose, por causa das dores que ela sentia no pulmão. Depois diagnosticaram um tumor no próprio órgão. Como a sua situação de saúde não melhorava, Carla foi parar na UTI do hospital Santa Marcelina, em Itaquera (zona norte de São Paulo), onde ficou por 22 dias, até começarem as sessões de quimioterapia.
- Eu vomitava muito, entrei em depressão, porque meu cabelo começou a cair. Fiquei dias sem dormir, porque achava que ia morrer, e também não conseguia comer. Cheguei a pesar 34kg. Antes, eu pesava 63kg.
Depois de sair da UTI, Carla permaneceu mais um mês internada até voltar para casa. Hoje, já está andando e voltou a estudar na sexta série. Agora seus objetivos são estudar e namorar.